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O lugar da mulher na CCB

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Mensagem por Admin Sex Dez 20, 2019 7:10 pm

Parte dos estudos sobre as relações de gênero e religiosidade afirma que as mulheres são mais religiosas que os homens e apontam o pentecostalismo como alienante e mantenedor da opressão feminina. Entendemos que as religiões de forma geral atuam como mecanismos de controle na sociedade, construindo mitos e formas de comportamentos que geram a submissão feminina.

na CCB, conforme o exposto anteriormente, fica claro que a produção do “sagrado” é papel dos homens, de alguns homens.

A participação das mulheres nos cultos e no funcionamento da igreja é restrita e controlada. As mulheres devem participar dos cultos: orar, testemunhar e chamar hinos. Mas não podem pregar a palavra, a participação na orquestra é controlada já que existe apenas um órgão em cada igreja e não há abertura para se tocar outro instrumento na orquestra. Durante os cultos, as mulheres sentam-se separadas dos homens, e cobrem a cabeça com um véu branco. É um mandamento para as mulheres cobrirem a cabeça quando fizer orações. Nenhuma mulher da CCB “ora” sem véu. O uso do véu é justificado pelo entendimento oficial dado ao capítulo 11 de I aos Coríntios, versículos 03 ao 6, onde o apóstolo São Paulo escreve para igreja de Corinto.

3 Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.

4 Todo homem que ora ou profetiza com, tendo a cabeça coberta , desonra a sua própria cabeça.

5 Mas toda mulher que ora ou profetiza coma cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça , por que é como se estivesse rapada.

6 Portanto se a mulher não se cobre com o véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha véu. (BÍBLIA, CAP. 11, vers. 3-6, 1987, p.199).
Nos versículos seguintes o apóstolo exorta que o “varão é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do varão”, por isso o homem não deve usar o véu. É raro uma mulher da CCB, não ter o véu dentro de sua bolsa. O véu é de extrema importância para as mulheres. O uso do véu pressupõe uma inferioridade da mulher, e o apóstolo continua: “[...] o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem”. Ainda, com base na exortação de São Paulo contida no capítulo 11(versículo 15) as mulheres da CCB são ensinadas a não cortar os cabelos: “Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, por que o cabelo lhe foi dado em lugar de véu”.

Um grande número de mulheres da CCB, sequer cortam as pontas dos cabelos, pois acreditam que seus cabelos têm “virtude19”. É comum nos testemunhos mulheres contarem que receberam curas ou alguma dádiva por causa de seus cabelos longos que nunca foram cortados. O véu e o cabelo formam uma malha de significado. Para os crentes da CCB véu e cabelo comprido são símbolos de poder. Para as mulheres da CCB, orar sem véu só em situações de extrema urgência, quando não é possível lançar mão dele.

Ressaltamos que um símbolo que pode ser visto como um sinal de legitimação de inferioridade, na representação das mulheres da CCB, paradoxalmente é um símbolo de poder, mas não poder sobre os homens, mas portadoras do poder de Deus. Além disso, a CCB é a única igreja que tem como mandamento o uso do véu. O poder do véu é propagado com freqüência nos testemunhos das mulheres durante o culto, com expressões: “Peguei meu véu, prostrei os meus joelhos em oração e Deus ouviu a minha oração.”, ou “O véu tem poder”. Perguntamos a uma mulher da CCB, sobre o que ela achava do uso do véu, e ela nos respondeu: “Não consigo me imaginar orando sem véu. È como se Deus não estivesse me ouvindo”, e completou afirmando: “O véu tem poder”.

O espaço ocupado pela mulher da CCB é o espaço da obra da piedade, onde não há visibilidade, e, sob o comando do diácono que é um homem. Também na CCB é recusada às mulheres a palavra pública. Michelle Perrot diz:

O que é recusado às mulheres é a palavra pública. Sobre ela pesa uma dupla proibição, cidadã e religiosa. “não permitis que uma mulher fale em público, abra uma escola, funde uma seita ou um culto. Uma mulher em público está sempre deslocada”, diz Pitágoras. As mulheres, no entanto, são os coros da cidade; requisitadas, elas clamam os heróis, lamentam-se nos cortejos fúnebres; mas sempre em grupo anônimo e não como uma pessoa singular. (PERROT, 2005, p. 318).


Assim, o silêncio da mulher na igreja, não é uma prerrogativa apenas da CCB, ou do mundo cristão. Ribeiro (1997). Na Grécia antiga, a mulher era submissa primeira ao pai, depois ao marido. Segundo Cambi (1999, p.81) “Suas funções públicas são apenas para funerais (suas atribuições o toalete dos mortos e os lamentos fúnebres)...”

No que tange à religião, Perrot nos diz:

Paulo aborda a questão. Herdeiro de uma tradição judaica tanto grega, ele impõe silêncio Às mulheres: “que as mulheres se calem nas assembléias”, diz ele na célebre Epístola aos Coríntios, aliás, objeto de exegese. Pois se admite que uma mulher possa profetizar, desde que tenha a cabeça coberta a fim de mascarar o sinal mais tangível de sua feminilidade, mas profetizar não é pregar.

O verbo é o apanágio dos que exercem o poder. Ele é o poder. Ele vem de Deus. Ele faz o homem. As mulheres são excluídas do poder, político e religioso. (PERROT, 2005, p. 318).

Mas as relações de gênero no interior da CCB vão além do silêncio nos cultos. Ser mulher na CCB exige enquadrar-se a um conjunto de regras, proibições e normas de comportamentos determinados pelos homens. Para Foucault, o poder atinge materialmente a realidade mais concreta dos indivíduos, o seu corpo, penetrando na vida cotidiana.

Dois aspectos intimamente ligados, na medida em que a consideração do poder em suas extremidades, atenção a suas formas locais, a seus últimos lineamentos tem como correlato a investigação dos procedimentos técnicos de poder que realizam um controle detalhado , minucioso do corpo – gestos, atitudes, comportamentos, hábitos, discursos. (FOUCAULT, 200020)

Um pequeno olhar nos revela que o comportamento das mulheres pentecostais21 obedece a uma padronização nas atitudes, formas de vestir, linguagem, valores, idéias e representações. Quem de nós, ao nos depararmos com mulheres que usam cabelos compridos, geralmente sem corte, penteados na forma de coque, ou, em rabo de cavalo, ou com longas tranças, usando saias ou vestidos com mangas, não conclui que se trata de uma mulher crente pertencente a uma igreja pentecostal? Mesmo as mulheres crentes, mais modernas por mais que tentem não conseguem escapar do estereótipo que formou em relação à figura da mulher da CCB e de outras denominações pentecostais. Guacira Lopes Louro escreve:

Uma multiplicidade de sinais, códigos e atitudes produzem referências que fazem sentido no interior da cultura e que definem (pelo menos momentaneamente) quem é o sujeito. A marcação pode ser simbólica ou física, pode ser indicada por uma aliança de ouro, por um véu, pela colocação de um piercing, por uma tatuagem, por uma musculação “trabalhada”, pela implantação de uma prótese... O que importa é que ela terá efeitos simbólicos, expressão social e material. Ela poderá permitir que o sujeito seja reconhecido como pertencente à determinada identidade; que seja incluído em ou excluído em determinados espaços; que seja acolhido ou recusado por um grupo; que possa (ou não) usufruir de direitos; que possa (ou não) realizar determinadas funções ou ocupar determinados postos; que tenha deveres ou privilégios; que seja, em síntese, aprovado, tolerado ou rejeitado. (LOURO, 2004, p. 83).


Ora, os cabelos sem corte, a ausência de adornos (jóias e pinturas), enfim, as marcas do corpo que fazem a mulher pentecostal, fazem parte de sua identidade. Para Foucault: “O poder disciplinar não destrói o indivíduo; ao contrário, ele o fabrica. O indivíduo não é o outro no poder, realidade exterior, que é por ele anulado; é um de seus mais importantes efeitos. (FOUCAULT, 200022).”

Acreditamos que estamos diante de um campo minado e complexo no que diz respeito às relações de gênero que permeiam a CCB. É importante destacar que se por um lado, os que estão de fora as vêem como “coitadas das crentes”, elas, as mulheres crentes constroem sua identidade e sua feminilidade a partir de sua religiosidade. As relações que estabelecem são ambíguas, pois geram a dominação, mas produzem a identidade.

Ser uma mulher crente, obediente e cumpridora das regras estabelecidas pela religião vai além do desempenho do papel de mulher pentecostal da CCB. Cumprir as regras significa constituir-se num sujeito pertencente ao grupo religioso. Pertencer a um grupo religioso significa assumir posições de existência com sentidos que se transformam em torno dos símbolos religiosos.

Nessa perspectiva admite-se que as diferentes instituições se práticas sociais são constituídas pelos gêneros e são, também constituintes dos gêneros. Estas práticas e instituições “fabricam” os sujeitos. Busca-se compreender que a justiça, a igreja, as práticas educativas ou de governo, a política, etc. são atravessadas pelos gêneros.(LOURO, 1997, p.25).

Existem, entretanto, aquelas que não se submetem pacificamente. As irmãs moderninhas subvertem, cortam o cabelo, encurtam as mangas, pintam as unhas, encurtam as saias usam calças compridas no trabalho. Ora, alguém poderia então perguntar: Por que não abandonam a igreja? Abandonar a igreja significa abandonar sua identidade. Ser crente da CCB, é pertencer a um grupo, ter uma identidade. E as que se submetem? Estariam apenas se submetendo? Ou, o fato de manterem-se fiéis às normas não é uma forma de ganharem visibilidade? De serem vistas como mais crentes que as outras? Entendemos que essa submissão é uma forma de poder. As mulheres “tementes a Deus23” são as mais fortes, são elas as responsáveis pelo funcionamento e circulação do discurso. São elas por meio de sua obediência, que garantem a legitimação do controle, e da resistência das outras. Assim, quando maior for à resistência, mais poder e saber as mesmas deterão.

De um modo ou de outro, esses sujeitos escapam da via planejada. Extraviam-se. Põem-se à deriva. Podem encontrar nova posição, outro lugar para se alojar ou se mover inda outra vez. Muitos permanecem referidos à via mestra, mesmo que pretendam recusá-la e “partir outra vez”... Sua recusa nem sempre é crítica, contundente ou subversiva; por caminhos transversos, sua recusa pode acabar reforçando as mesmas regras e normas que pretende negar. (LOURO, 2004, 19).

Para Foucault (2000, p. 14), os poderes não estão localizados em pontos específicos da estrutura social, e onde existe poder há resistência, porém não existe um lugar específico de resistência, mas pontos móveis e transitórios.

Embora reconheça que as relações de gênero no interior da CCB são permeadas por uma relação de dominação do masculino sobre o feminino, faz-se necessário investigar o que a igreja dá a essas mulheres. Arriscamos-nos a dizer que a igreja lhes dá uma identidade.

Isso posto, concluímos que as mulheres pentecostais não se percebem como “mulheres dominadas”, sentem – se dominadas por Deus e, pelo Espírito Santo. Nesse sentido, entendemos a questão das representações das mulheres pentecostais
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